quinta-feira, 1 de abril de 2010

Hospede

Biro nunca esteve tão feliz em sua vida, tinha um bom emprego, uma boa esposa e um cachorro que o idolatrava. Biro era iluminado. Era só comprar uma rifa e pronto, liquidificadores? Tinha quatro. O dono da padaria sempre mandava broas de milho de cortesia para sua casa. Mas Biro tinha um segredo. Quando as luzes se apagavam e sua esposa dormia, ele descia para o porão de sua casa e era ali que o Mal se encontrava. Em um porão repleto de bagunças, caixas e poeira, podia-se ver uma divisória de madeira ao fundo. Um cadeado guardava o local, a esposa sabia que não devia entrar ali, pois era onde ficavam as ferramentas herdadas do seu falecido sogro. Na verdade, ela nunca teve muita curiosidade sobre aquele quartinho.

Desceu as escadas sem fazer barulhos, mas não se preocupava em ser furtivo. Apenas andava calmamente e com segurança. Passou pela sala e reparou na quantidade de luzes piscando que vinham dos aparelhos eletrônicos. Chegou à cozinha e tomou um copo d'água. Foi até a porta que levava ao andar de baixo e não precisou acender a luz para chegar até o cadeado daquela divisória no porão. Não precisava de chave, pois a tranca era aberta por senha. Rodou os números até ficar na posição correta, um clique indicava que a combinação foi correta. Ao passar pela porta, fechou com uma nova trava, agora pelo lado de dentro. Uma cordinha esbarrava em seu ombro. Puxou-a e uma fraca luz inundou o ambiente.

Runas e símbolos decoravam as paredes. Pentagramas com formas estranhas marcavam vários pontos. Presa na parede na posição vitruviana, com os membros afastados, e nua estava à fonte de toda a boa sorte dele. Uma Sucubus. Mas não uma Sucubu qualquer, era uma Matriarca. Ele olhou seu belo corpo preso a parede, suas curvas eram perfeitas. Sem hesitar, desferiu um tapa no rosto dela quase arrancando a mordaça. No mesmo instante a Sucubu assumiu sua forma real, da cintura para baixo havia pernas de bode peludas com cascos, o tronco era humano, porém, enrugado e putrefato a cabeça tinha forma canina com olhos de felino.

Mogadisha riu suavemente por entre a mordaça de couro.

A tira de couro foi retirada.

- Olá demônio.
- Olá Biro, veio me soltar?
- Nunca! Você é minha.
- Um dia eu darei o que realmente esta guardado para você.

Outro golpe foi desferido certeiro no rosto da cativa.

- Demônio. Criatura impura. Ser imundo.
- Demônio. Criatura impura. Ser imundo... E os velhos nomes?
- Morreram, juntos com os da sua raça.

Ela olhou para o teto e seus olhos ficaram vidrados.

- Mais um de nós ainda vive, solto. Você sabe quem é. Eu sou a Mãe e ele é o Pai. E ele esta me procurando.
- E passara mais trezentos anos antes dele achar você e acredite, nós também estamos procurando por ele. E quando acharmos, minha família ficara livre desse dever, para sempre.
- Junte todos da sua linhagem e some os antepassados, não serão suficientes. O Pai é o melhor, o mais forte e o mais belo.
- Então me diz como achá-lo e veremos quem saira vivo.
- Eu até diria como achá-lo, mas vocês atacariam durante o dia, enquanto ele estiver dormindo.

Biro foi até o único móvel do recinto, uma mesa velha. Coberta por um pano branco. Retirou o tecido que guardava suas facas. Pegou uma curta e rombuda.

- Vamos acabar logo com isso.
- Eu comerei sua alma! EU COMEREI SUA ALMA! EU COME...

A mordaça voltou a boca da Sucubu. A faca rasgou precisamente o ventre dela, com as mãos Biro buscou algo dentro da barriga da besta.

- Essa é maior que as outras!

A Sucubu se contorcia enquanto ele arranca algo que lembrava bastante um bebe humano de dentro dela. Mas as pernas ainda eram de animal e o rosto deformado. A cada duas noites tinha que descer e refazer a mesma coisa, pois no terceiro dia a criaturinha nasceria. Sem o menor zelo ele pendurou a cria pelo pé em uma corrente que descia do teto. Com o pano que estava na mesa, limpou os braços. Sabia que quando olhasse para a Matriarca não encontraria ferimento nenhum. Marca alguma.

- Um belo exemplar.

Com a mesma faca que trouxe a criaturazinha ao mundo, pôs fim a sua breve existência. E depois jogou o pequeno corpinho dentro de um saco de lixo preto. Amanhã passaria no abrigo de animais e cremaria a carcaça.

Biro virou-se para onde a Sucubu se encontrava e por um instante pareceu cansado, mas mesmo assim, tirou a bermuda ficando também nu. Foi até onde a Sucubu estava e a possuiu violentamente, com pressa e força. Odiava aquela parte, se sentia sujo. Mas era seu dever e a sua prisioneira não oferecia resistência alguma. Após alguns minutos terminou o coito e sem manifestar nenhuma reação, virou e pos sua bermuda novamente. Quando olhou para a Matriarca viu que novamente ela se parecia com um ser humano comum.

- Nos vemos em três dias.

E foi embora.

Sucubus são as fêmeas e Incubus são os machos, seres inferiores que vivem da lascívia humana. Uma Sucubus precisa do sêmen do homem tanto quanto o Incubus precisa espalhar o seu entre as mulheres. Eles não procriam entre si. Precisam de nós para sobreviver, esta escrito que "cem mil Sucubus nascem para cada Incubus". Conta-se que eles atacavam vitimas que não tinha predileção pela luxuria, como monges, padres, freiras e mulheres castas e quando encontravam uma dessas vitimas a aterrorizavam por anos, noite após noite.

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