sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Contos Avulsos - Quando aqui se paga.

Quando Aqui se paga.

Edson estava sentado em sua poltrona lendo um dos muitos jornais que lia todos os dias. O relógio denunciava a hora. Ana estava atrasada sete minutos. Irresponsável. Sua filha era seu maior desgosto. Tinha perdido um filho para o câncer dois anos antes. Esse filho, sim, era o orgulho de Edson, mas Ana não era motivo para nada. Na verdade, seu desinteresse era tão grande que não se preocupava em saber se aquela menina insossa tinha algo de bom. Não se preocupava com isso, porem, enquanto aquela menina morasse sobre o seu teto e dependesse de seu sustento, tinha de seguir as regras. Ana sempre chegava da faculdade publica as vinte e três e quarenta. Sorte ela ter passado naquele vestibular, pois Edson jamais gastaria alem do mínimo necessário com o peso morto que era sua filha. Ela entrou em casa com seu habitual fardo de livros na frente do corpo, tinha os olhos cansados devido a sua jornada que começava as cinco e meia da manhã, horário em que saia para o trabalho, e terminava próximo da meia noite. Ana não era bonita. Não parecia ser bonita. Edson não se importava com isso. Como já prevendo a vindoura briga devido a seu atraso ela tentou passar rápido pela sala e ir direto para o seu quarto. O pai não deixou.

Edson, assim que viu aquela menina insolente passar pela porta jogou seu jornal no chão e levantou-se. Postou seu corpo velho no caminho e deu inicio a mais uma das incontáveis brigas que tinha com sua filha.
- Você acha que isso aqui esta com cara de pensão ou puteiro, mocinha? – A ultima palavra saiu com um tom nojento de deboche – Você já comprou essa casa? Então por que esta achando que pode fazer o que quer?
-Desculpe, o ônibus passou atrasado hoje. – Ana olhava para uma marca antiga no carpete da sala, aprendeu há muito tempo não olhar o pai nos olhos.
Edson deu mais um passo para frente, parando a dois metros de Ana. A filha tremia.
- Ah, o ônibus atrasou é? Ou será que você estava trepando com algum vagabundo por ai? – Ele nunca permitiu que Ana tivesse vida amorosa.
-Desculpe... – Ana não tinha mais lagrimas para chorar.
Edson subitamente deu um tapa nos livros da faculdade que caíram esparramando folhas e anotações pelo chão.
-ME CHAME DE SENHOR! SUA BOSTINHA! – O pai gritava, seu rosto estava vermelho e algumas veias saltavam em seu pescoço, mas a filha não viu isso, pois ainda fitava a mancha no carpete que curiosamente não tinha sido tampada pelos seus livros e folhas.
-Desculpe senhor. – Ana ameaçou abaixar-se para recolher seus pertences, mas foi violentamente agarrada pelos ombros e forçada para a parede, bateu sua cabeça com força. Sentia-se zonza.
O pai estava agora a poucos centímetros do rosto da filha e bufafa como um animal dominado pela fúria. Ana podia sentir o cheiro do hálito podre de seu pai invadindo suas narinas. Edson estava transtornado. Sentia que todos os problemas de sua vida eram culpa daquela menina idiota. Ele olhava diretamente nos olhos da filha que estavam fixos no chão. “Essa vadiazinha esta pensando que pode trepar com todos os homem, é?” pensava o pai. Iria ensinar quem mandava naquela casa. Ana não se abalou quando o pai começou a beijar compulsivamente seu pescoço. Ele abriu sua blusa com um movimento brusco fazendo alguns dos botões voarem pela sala. Jogou sua filha de barriga contra o encosto do sofá, afastou-lhe as pernas e com uma mão por baixo da saia de Ana deu passagem para seu membro invasor. Terminara de mostrar quem manda naquela casa em poucos segundos, tremendo, suando e babando. Saiu da sala sem olhar para a filha que tinha deixado seu corpo escorregar para o chão, ficando quase de joelhos com a cabeça encostada na parte de trás do sofá. Ana não chorava, não conseguia mais. Estava apenas olhando para a mancha no carpete. Depois de alguns segundos arrastou seu corpo violado ate onde seus livros testemunharam sua agressão. Quando estava levantando-se viu o pai passar rápido por ela e sair de casa. Ana foi ate a pequena janela ao lado da porta e olhou o homem que passava o portão da casa.
Edson andou em passos firmes o trajeto entre seu quarto e a calçada, ele praguejava mentalmente contra a filha, todas as vezes que abusara da filha tinha sempre sido por culpa dela mesma. Quando chegou ao fim da calçada, junto à sarjeta, sentiu que estava sendo observado. Olho para trás enquanto dava o passo que o colocaria na rua, viu Ana encarando-o pela janela. Foi sua ultima visão antes do ônibus azul transformar seu corpo em um amontoado de carne e ossos quebrados.
Ana procurava outro cobertor no armário enquanto sua amiga estava sentada numa velha poltrona, estava fazendo frio de mais esses dias, não era bom ficar sem agasalhado.
Edson abriu os olhos e sentia-se enjoado, tinha um gosto de leite na boca, só que mais salgado. Tentou se mexer, mas não conseguiu. Onde estava? Que cama era essa? Por que havia pequenas grades em volta da cama? Ouvia duas vozes de mulheres. Elas conversavam sobre alguém que nasceu mudo e o medico disse que ele jamais falaria. Ele conhecia uma das vozes, mas não se lembrava de quem era. Subitamente viu um rosto aparecer por sobre as grades da cama. ANA! Era sua filha! Ela esticou os braços na sua direção, ele tremeu, mas não conseguiu se mexer, ela desenrolou um cobertor azul e Edson sentiu o frio no mesmo instante. De alguma forma ela os pegou no colo. Como poderia? Ao virar de frente para um armário Edson viu seu próprio reflexo num espelho, mas não era ele, era um bebê. Sem pernas e com bracinhos atrofiados. O bebê chorou copiosamente, um choro de sons abafados.

6 comentários:

Pietro Nox disse...

cacildis Puck!

Meu que tenso esse conto ai! Cara se eu tiver pesadelos vou te culpar!

Abs!

Mell Lua disse...

Ai que maldade....rs......Amigo, coloca mais coisas! rs

Bjos!

Mell

The Puck disse...

Pietro e Mell,

Obrigado pelos comentarios!

Pietro, que seu pesadelo não seja da extensão que eu imagino!

Mell

Vou postando de acordo com os pergaminhos que são retirados da caixa.

Grande abs!

Unknown disse...

PUTZ, SEM COMENTÁRIOS!!!!

bjo!

Anônimo disse...

Conto bom, porém que mulher não foi atentada, né?!

The Puck disse...

Freak, não!?

 
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