quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Contos Avulsos - Musa

Musa.

Ela estava deitada ao seu lado. Linda, com seus cabelos morenos esparramados pelo travesseiro. Ele adorava ficar olhando aquele semblante calmo, sereno. Ainda se espantava em como seu rosto era perfeito, como o desenho dos daqueles olhos fechados eram perfeitos, com traços orientais. Seu rosto não possuía nenhuma marca comumente encontrada em nossos rostos a partir da adolescência, fazia-o lembrar um veludo bem fino. Ele passava os dedos calmamente pelo rosto dela, acompanhando seus traços. Respirava profundamente para sentir todo o seu conhecido cheiro que iria direto para o cérebro que mandava uma sensação de calor em seu peito. Estava deito ao lado dela fazia quatro horas, somente olhando sua mulher. Ele a amava como nunca imaginou amar alguém, como nenhum escritor jamais conseguira retratar em palavras, como somente quem ama sabe o que sente. Amava sua mulher desde o primeiro momento em que a viu.

Ela passava em frente seu trabalho e da janela ele a admirava, demorou três meses até tomar coragem para falar com ela. Casaram-se. Construíram juntos uma vida.

Ele olhava seu corpo nu, deitado como sempre no lado esquerdo da cama. O lado dela. Ele conhecia cada centímetro do corpo dela. Já tinha beijado cada parte daquele corpo inúmeras vezes. Reparou em seus seios que jaziam rijos, apontando para o teto. Seios que ele tinha um carinho especial. Derramou seus olhos para a barriga dela. Tinha aprendido a amar aquele adorno em seu umbigo. A jóia refletia a pouca luz do ambiente na pequena pedra incrustada no centro. Perdeu bons minutos apreciando a dança das luzes que ricocheteavam na jóia dela. Chegou a brincar com o dedo levemente, mas trouxe sua mão rapidamente de volta ao seu corpo, não devia tocá-la ali.

Do seu lado da cama ele estava admirando as pernas da sua esposa. Era a parte preferida do corpo dela, na opinião dele. Aproximou seu corpo do corpo dela, tentou encostar as pernas junto às pernas dela. Decidiu que era melhor não. Como estava mais próximo, podia sentir seu perfume ainda mais densamente. Fechou os olhos e imaginou quantas vezes fizeram amor dentro daquele quarto, encima daquela cama. Lembrava de ocasiões marcantes e sensações gostosas, mantinha seus olhos fechados para não perder as imagens que passavam como um filme em sua mente, podia até ouvir os gemidos de êxtase dela. Ele sabia onde tocar, onde morder, onde acariciar. Perdeu a noção de quanto tempo ficou absorto em seus devaneios e ao abrir os olhos viu que ela ainda estava ao seu lado, mas também, onde ela poderia estar? O lugar de sua esposa era justamente onde ela estava agora já que a garganta dela estava cortada.

O problema estava do seu lado da cama, no lugar do marido.

Quando abriu a porta do seu próprio quarto viu a esposa cedendo o que era seu a outro homem. Não apenas o corpo, mas seu lado da cama e sua dignidade. Eram corpos envoltos em mãos, braços e pernas. Não havia roupas naquela cena. Sentiu algo subir do estomago para a garganta, mas não podia afirmar como as coisas ocorreram a partir daquele momento.

Tropeçou no corpo do homem que usurpava seu lugar encima da sua cama e da sua mulher, a tesoura de costura ainda estava cravada no peito dele. Saiu do seu quarto deixando o corpo da sua musa e nunca mais foi visto.




2 comentários:

Anônimo disse...

Pôxa, e eu delineando a imagem da May... não quero pensar nela de garganta cortada!! Credo! Mas é bom seu texto

The Puck disse...

Esta moça é apenas fruto da minha momentanea imaginação obscura.

 
hits